Le Cuisinier.

Entre panelas, pratos, vinhos e temperos, junto ao fogo, acontece a cocção de palavras e idéias aromáticas. As receitas podem ser concretas ou abstratas... vai depender do que vai em cada um, do que constrói cada um, do desejar de cada um. É um lugar livre, de integração, mas também da possibilidade de divergir do que está posto no mundo. Todos são bem vindos! LE CUISINIER.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Mercedes Sosa - Solo le Pido a Dios

... e ainda há tanto a fazer nas Américas e em África... que mundo!!

sexta-feira, novembro 09, 2007

Motorcycle Diaries - Jorge Drexler Al otro Lado del Rio

quinta-feira, novembro 08, 2007

A Vida Escondida Nos "Temperos".

Já aviso de antemão que não terei tempo agora de escrever tudo que quero e nem de corrigir o texto, mas o farei mais tarde... não muito mais tarde acreditem. No domingo passado, terminou, infelizmente, mais um feriadão, (reconheço sim o valor de fins de semana prolongados). Aproveitei e fui para a casa de meus pais. Adoro aquele lugar! A praia enorme, vazia e com aquele mar azul que se prolonga até a curvatura da Terra. Adoro o silêncio que ocupa a maior parte do tempo por aquelas bandas! Amo chegar lá e já, ao longe, avistar as Bougainvilleas de cores variadas se lançando assanhadas para fora do muro da casa dos meus velhos. Ainda na calçada assovio o código que é a marca registrada da família para ver todos correndo para o jardim e darem aquela espiadela de confirmação de quem está chegando. Não somos ricos, mas a sensação que tenho é de que não há dinheiro no mundo que pague momentos como esses: estar em "contato" e com pessoas a quem se ama e se quer perto... bem perto. Já escrevi aqui uma vez que minha família é quase que totalmente apaixonada por culinária, por cozinhas tomadas por aromas de alguma coisa borbulhando dentro das panelas ou assando no forno ou sendo preparada ao calor do carvão, no jardim. Nossas conversas e atividades giraram quase todas em torno da comida. Histórias antigas como as de minha bisavó cozinheira de mão cheia que morava em um casarão colonial na Bahia e que, de tantos clientes que atendia, tinha uma ala da casa com 10 quartos só para os empregados que a ajudavam nos preparos dos quitutes e das fornadas especiais que desembarcavam no mundo preciosos pratos. Ou as tiradas hilárias das reuniões gastronômicas promovidas por meu avô Álvaro em sua casa - igualmente grande - num subúrbio aqui do Rio, ou as receitas e truques mágicos que minha mãe desenvolveu ao longo desses mais de 60 anos cozinhando e que conta e demonstra para mim quem sabe na esperança de me ajudar a ser um mestre cuca dos bons e manter a tradição da trupe. É claro que... entre um papo e outro, uma história e outra, havia o trânsito de um copo e outro de vinho fornecido pelo meu generoso pai (que finge ter ciúmes de suas garrafas estrategicamente guardadas) ou cervejinhas geladinhas capturadas diretamente no Bar do Ozório e para onde fomos diversas vezes ao longo desse período que lá fiquei. Pois é! Para aqueles que estão mais ligados no tema já perceberam que cometi o sacrilégio de misturar bebidas tão distintas entre si. Mas sabemos todos... a felicidade caminha... e muitas vezes por estradas "tortuosas". Se fiquei bêbado ao final do dia? Claro né?! Mas dormi um bom sono na rede enquanto meus pais e minha irmã foram fazer visitas "técnicas" para buscar inspiração para a reforma da casa. Voltando ao que "falava" antes. Esses encontros poderiam ser algo de muito chato e sem graça se não houvesse um tempero especial acompanhando-os. Algo com o poder de transformar o que poderia ser (ou parece ser) banal em algo realmente delicioso e saboroso. Cada pessoa, cada casal, cada família ou grupo de amigos encontram esse tempero em muitos lugares externos e em alguns lugares internos. Armazenados ali no cantinho do coração de cada um de nós: lembranças de afetos, de histórias vividas, de relações de amizade, de situações inusitadas que a vida nos oferta com regularidade, de dias aparentemente normais, de canções, de fotografias amareladas pelo tempo, de fragmentos de memória, de amores quase esquecidos, de amores recém chegados, de cartas escritas a mão, de um livro querido, de cheiros sentidos, de olhares trocados, de momentos tensionados, de abraços looongos e apertados, de beijos estalados ou de beijos sabiamente furtados, de noites em claro, de amanheceres inesquecíveis ou de uma lua prata sobre o mar, ou de coxas entrecruzadas sob o cobertor na madrugada com um amor. A lista é, seguramente, interminável e quase corriqueira mas repleta daquilo que chamamos Vida. E nesses dias com meus pais e minha irmã vivi. E esses dias traduzem o sentido de eu estar aqui no bom e velho planetinha - embora assustadoramente cada vez mais complicado. Onde quero chegar? Do que estou falando? Do sabor esquecido das pequenas coisas do cotidiano! Das delícias escondidas nas vidas que acontecem fora das manchetes espetaculares de revistas e jornais ou das câmeras de televisão. Falo e escrevo sobre as cozinhas equipadas com fogões e panelas baratas, dos arranjos culinários criados sem maior pretensão, das técnicas e gestuais caseiros nascidos na lida com os alimentos, dos cadernos de receitas escritos a mão mas onde são conservadas, século após século, as memórias gastronômicas e culturais de uma nação chamada Brasil. E é um tesouro fantástico do qual podemos e devemos participar consolidando saberes e transformando outros. E nesse espírito, a minha moda e do meu jeito transformei o curso dos meus dias e imprimi a eles a cor que desejei. Temperei-os com tudo que vivi, com tudo que vivo e ouso temperá-los também com tudo que viverei. Deixei de lado o 'fast food', o 'fast life', o 'time is money' o "hambúrguer" de caixinha fino e congelado comprado no supermercado e fiz o meu; picado na ponta da faca, com todos os temperos que sonhei e grelhado ao ponto que me faz bem. Coloquei-o no prato que escolhi e adornei-o da forma que me parecesse belo. É certo que não deixou de ser um hambúrguer mas reinventei-o e agora ele faz parte, de alguma forma, do meu percurso aqui. Infundi no seu preparo entre outras coisas, minhas emoções, desejos, alegr... Tá bom! Sei que pode parecer meio estranho comparar a vida com um hambúrguer, mas, como disse lá em cima no início do texto, algumas coisas eu não poderia corrigir agora, talvez mais tarde... mas o hambúrguer é algo bastante simples, descomplicado e gostoso de fazer e comer. Como é a vida! Que só ganha sentido quando "feita" com desejo - o meu, o seu, o nosso - e condimentada com ardor. Ambos, ao hambúrguer e a vida, deixam de trafegar no banal para incorporar algo especial. Um hanbúrguinho comum ninguém presta muito atenção mas, um como o que está na foto acima...duvido muito que passe desapercebido. E todos nós podemos fazer um. É isso! Beijos grandes, Le Cuisinier. quinttal@yahoo.com.br

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