Le Cuisinier.

Entre panelas, pratos, vinhos e temperos, junto ao fogo, acontece a cocção de palavras e idéias aromáticas. As receitas podem ser concretas ou abstratas... vai depender do que vai em cada um, do que constrói cada um, do desejar de cada um. É um lugar livre, de integração, mas também da possibilidade de divergir do que está posto no mundo. Todos são bem vindos! LE CUISINIER.

quinta-feira, julho 20, 2006

Cidades de Minha História.

Já passei e vivi em muitas cidades. Não tantas quanto queria mas mesmo poucas, tornaram-se partes integrantes de minha vida e de alguma forma, conectadas ao Rio; minha cidade natal que apesar dos péssimos políticos que elegemos e que a "governaram" nos últimos 30 anos, ainda continua linda, charmosa e acolhedora.

quarta-feira, julho 05, 2006

MUDE.

Mude, mas comece devagar, que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os teus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros, Viva outros romances. Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias. Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor. A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida compre pão em outra padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!!!!
Esse elogio a sensibilidade e a vida que acabou de ler foi escrito por
Edson Marques.
Agradeço por ter publicado aqui meu poema MUDE (ainda que você tenha dito que é de Clarice Lispector...) Eu te convido a ver o video Mude, e o livro, lançado agora pela Pandabooks, com prefácio de Antonio Abujamra. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Abraços, flores, estrelas.. Sexta-feira, Abril 13, 2007 12:59:07 AM

Felicidade e Broas de Milho a Caminho de Itacuruçá.

Ontem à tarde, durante os preparativos para a viagem de Sica, paramos em uma padaria. Era, na aparência externa, uma padaria comum, dessas que existem as centenas espalhadas pelas esquinas. Mas entrando, a primeira coisa que chama a atenção é a absoluta limpeza e organização – o que venhamos e convenhamos são aspectos cada vez mais raros nesta cidade. Funcionários com uniformes impecáveis, expositores extremamente limpos e ordenados, iluminação equilibrada, atendimento rápido e simpático – sem afetação, sem “aquele sorriso Macdonaldniano” tipo campanha publicitária. Somado a isso, estava repleta (e não podia ser diferente - risos) de pães, doces, frios... produtos com visual caprichado e, comprovamos mais tarde, deliciosos. Compramos uma pequena variedade deles e nenhum sobreviveu até entrarmos, horas mais tarde, no carro rumo ao aeroporto internacional. Uma das saborosas aquisições foram pequenas broas de milho. Macias, cheirosas e em quantidade para quatro pessoas. No trajeto para a casa de Sica, enquanto conversávamos e planejávamos o café para dar conta das guloseimas, lembrei de uma cena da minha infância. Quase sempre passava as férias escolares na casa de meus avós maternos. Uma casa no subúrbio carioca, com cara de final do XIX e início do XX, um quintal enorme, duas salas gigantescas, quartos amplos, uma pequena biblioteca e uma charmosa cozinha. Cozinha que fazia jus ao caloroso casal que, assim como quase toda a família, era adepto da Boa Mesa: Comida farta e gostosa. Porém, nem sempre o palco dos encontros gastronômicos ficava restrito à residência deles. O “monopólio” foi rompido, por um bom tempo, e o local das reuniões familiares passou a ser em Itacuruçá, (aconchegante balneário próximo aqui do Rio que nesta época ainda recebia em suas praias tartarugas gigantes. Dessas que hoje só vemos em documentários sobre ecologia) e onde meu avô alugou uma casa para passar as férias. Uma festa! Para chegar lá, íamos até uma estação e lá pegávamos um trem quase cenográfico: vagões de madeira, bancos idem, grandes janelas, um sacolejar preguiçoso, com direito a cabineiro uniformizado, apito e paisagem peculiar no caminho. Pois neste bendito trem havia outro momento especial: a hora do lanche! Minha avó levava café em garrafa térmica e ficava aguardando... quem dava à hora de serví-lo não eram os netos ou ela mas um senhor que ia de vagão em vagão vendendo a mais fantástica broa de milho que já comi em toda a minha vida. Não eram broas diminutas como as que citei acima, mas broas que davam sentido a palavra generosidade. Não bastasse esta qualidade, eram macias, cheirosas e DELICIOSAS! O que resultava, em determinado momento, no pecado da gula. Pecado justificado para ser sincero. Fazíamos o pedido e ele tirava as broas de um grande cesto de vime e as colocava em sacos de papel pardo de onde, ao longo do caminho para Itacuruça, íamos retirando e devorando cada uma delas. Ao final da viagem, o único sinal de existência das broas eram os farelos amarelados que as cobriam e que eram “transferidos” para as nossas mãozinhas e, evidentemente, para as nossas roupas, bocas, bochechas e cabelos. Uma pequena bagunça. Meus avós maternos não tinham nenhuma rigidez no sentido de manter uma “estética da aparência educada e comportada”. O que valia para eles era a estética da felicidade e da liberdade e isso apreendemos deles. A alegria do encontro e daquele momento era o que dava significado as ações em família e a própria vida. Não por acaso é que, mesmo tantos anos após partirem para outro universo, eles são carinhosamente lembrados e “acariciados” todas as vezes que nos reunimos para matarmos as saudades e colocarmos os papos em dia.
Nos encontros na casa deles e nas viagens de trem para Itacuruça havia muito mais que comidas e broas de milho! Um abraço,
Le Cuisinier.
Neste site, vá até A CIDADE. Lá tem um link sobre o trem e a estação com um belo texto e fotos do arquiteto Sérgio S. Morais.

terça-feira, julho 04, 2006

Chocolate Quente as Cinco da Manhã.
Não faço de propósito mas, de uns meses para cá, acordo bem cedo - não preciso forçar, não preciso de despertador - e vou para a minha varandinha dar uma primeira olhadela no dia que está para nascer. Logo em seguida vou para a cozinha e preparo um café (forte) ou na ausência deste, um chocolate cremoso. Não como nada neste momento - isto já há muitos anos. É o café e pronto! (a entrada do chocolate em cena é mais uma das boas mudanças que ocorreram em minha vida com a presença de Sica). Volto para a varanda e fico namorando a paisagem fantástica que tenho de lá: Lagoa, Pão de Açúcar, Cristo, Dois Irmãos, Leblon, Ipanema, O início de Copa(cabana)... e bebo o meu chocolate quente... aguardando os primeiros movimentos do amanhecer. Às vezes escuto Bach neste momento mas, nas últimas semanas tenho preferido os sons que chegam junto com os primeiros raios da manhã - o ar se agitando, a balburdia de passarinhos, tucanos e... Deus!!!... até um galo! Bebo o meu chocolate enquanto vejo as nuvens serem tingidas de rosa que transita suavemente para um vermelho intenso que avisa... "Estou prestes a sair... só mais uns minutinhos e saio por detrás do Pão de Açúcar, pelo canto esquerdo, não vá embora... me espere!"; quase que brincando de esconde-esconde como faz o Tony, O gato (outra boa novidade introduzida em minha vida por Sica) meu parceiro de brincadeiras, bagunças e de noitadas nas quais a leitura avança sem controle. Não é algo demorado este nascimento diário do Sol, é até rápido demais. (de tão lindo que é, poderia durar mais... este tipo de beleza não cansa a vista nem o espírito). Depois de exposto, a paisagem muda radicalmente. A claridade que vem com ele revela a cidade por inteiro, as pessoas por inteiro, o tempo por inteiro, revela por inteiro o início do frenesi que vai tomando conta de todos os espaços nas ruas e nas pessoas... muito antes disso, o chocolate já acabou, eu já tomei meu banho, já me arrumei, preparei minha mochila com os livros e textos fragmentados de pensadores e historiados renomados, já alimentei o Tony, lavei a louça, arrumei a "cama", retirei o lixo e saio mergulhando nas intensidades do mundo mercado, no qual tenho que estar mas não viver. Viver é outro assunto, é tema de outra ordem... é estar e ser com o gosto do chocolate quente ainda no fundo da boca... ao longo do dia e da noite, num amanhecer constante onde a suavidade permite receber e integrar o outro e a si mesmo, onde o tempo não é o tempo do mercado, do "time is money" que tristemente importamos e incorporamos as nossas vidas e que tenta nos roubar possibilidades. Possibilidades ‘gestadas’ no afeto, na paciência amiga, na amizade, na construção de uma forte parceria solidária que deságüe numa sociedade mais justa e com menos desigualdades... Viver é um outro assunto, é afrouxar a rigidez das fronteiras internas para permitir que possamos fazer interseções produtivas de lealdade e confiança e que, mesmo tendo que estar "operando" no mundo neoliberalizante, possamos traçar os nossos próprios caminhos, que possamos pensar por nós mesmos, que possamos "parar" e sentar em um Café num finalzinho de tarde ou na Pedra do Arpoador ou onde quer que estejamos e ver o Sol avisar: "Estou indo mas volto amanhã, um pouco depois das cinco... me espera com uma caneca de chocolate quente!!" Um abraço,
Le Cuisinier.

segunda-feira, julho 03, 2006

Café no ATAULFO.

Saí correndo da universidade para encontrar meu irmão no Leblon. Corri pois havia marcado às 19:20h e chegar atrasado é ouvir carinhosas broncas sobre a existência do relógio... como diz minha namorada "momento família"! Dupla surpresa minha. Primeiro que não cheguei atrasado! Às 19:19 estava no ponto de encontro. Segunda surpresa: Lula, além de cada vez mais bonito e ótimo anfritrião, não estava sozinho - Deby estava no Ataulfo com ele e, ao me aproximar... o carinho de sempre dessa grande amiga: braços abertos e um belo e sincero sorriso como boas vindas. Se tantos só percebem a felicidade em grandes acontecimentos, eu não posso deixar de ver nestes encontros, entre um fim de tarde e início de noite de inverno Carioca, a felicidade concretizada. Uma mesa com três pessoas que se amam... entre pãezinhos quentes, café saboroso, ar fresco vindo da praia, luz suave, bom papo e uma paz e conforto que um encontro de afetos proporciona. Aliás um encontro rápido pois todos tinhamos algo a fazer em meia hora mas... e daí? Será sempre um flash que retornará ao longo da vida, quando recordarmos os bons momentos. Algo que podemos saborear a hora que quisermos e sem medo de que acabe. Momentos como esse trazem a marca do perenidade. É isso... vou estudar que tenho duas provas amanhã. Abraços, Le Cuisinier.

Férias e Culinária de Pescado.

O meu "Volto já" de balcão de mercearia durou mais tempo do que desejei. Por uma razão simples: final de período, e a massa de material para reler ou fazer ainda a primeira leitura - já que não há tempo real para dar conta de tudo o que nos passam os professores - é gigantesca. Aí... só agora encontrei um tempinho para retornar aqui no AS PANELAS ME LEVAM A LOUCURA para colocar mais uma mensagem.
Neste período que está terminando somente três matérias encontraram lugar no meu coração: História do Pensamento Econômico, Revolução Francesa e Projeto de Monografia. As duas primeiras porque me ajudam a compreender melhor como opera o mundo corrente, a última porque posso lidar com um tema que vai além do dever: alimentação.
Se até alguns pouquíssimos anos atrás era um assunto "nada acadêmico" (aqui no Brasil muitos "doutores" ainda acham que não é mesmo acadêmico) agora há um interesse cada vez maior pelos caminhos "culinários" trilhados pelo Homem... das cavernas até a era do microondas. Uma verdadeira loucura, se me permitem usar tal palavra. É um percurso fantástico e extremamente rico. E fazendo um recorte, é a própria história do que somos hoje no mundo ocidental - que se supoe o suprasumo da "civilização" e do "progresso humano" ( quase certo que as cabeças pensantes ficam nervosas com os dois conceitos postos ao lado - e com muita razão.)
Tratar desse assunto na minha monografia me permite manter contato com os aspectos teóricos do tema e com a faceta DELICIOSAMENTE prática que o envolve. Estou, claro, falando de fogo, panelas, temperos...alquimia gastronômica.
De tantas coisas ainda por fazer nas próximas semanas, duas estão me animando de forma especial: a primeira é que vou entrar de férias na universidade. Bom... muito bom! É um não fazer importante. A segunda é que vou, finalmente, me matricular no curso de Culinária de Pescado em uma Escola totalmente voltada para a pesca. Creio que é uma das poucas existentes no Brasil; sei que há uma outra no sul. Desde do ano passado estou aguardando a reabertura das inscrições. As informações que obtive, sobre a escola, são as melhores. Para mim é uma oportunidade especial de avançar um pouco mais no universo da culinária e ampliar as bases para, quem sabe, me especializar neste tipo de alimento - altamente perecível e de custo alto - mas que é uma fonte fantástica de sabores, texturas e cores. Quanto ao custo ainda alto do pescado, não era para ser mais barato em um país como o nosso que tem um litoral gigantesco e um oceano generoso?! Adentramos nas políticas governamentais.
Nossos "políticos" eleitos por nós, ainda não se dignaram a levar este assunto com a seriedade devida ( apesar dos apelos e propostas já discutidos e postos nas mesas dos mesmos). É urgente a concretização de uma plano de desenvolvimento para uma indústria pesqueira de qualidade. Não importa muito qual o nome que terá, importa que seja realmente efetivado e que seja uma ponta de lança para tornar este alimento mais barato e farto nas mesas dos brasileiros. Uma visita em qualquer uma das muitas colônias de pescadores, ao menos aqui no Rio de janeiro, dá a noção clara de como a pesca ainda é extremamente artezanal e o quanto pode ser feito para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida desses pescadores sem agredir suas raízes e tradições.
Quando iniciar as aulas de Culinária de pescado, passarei as minhas impressões - de um iniciante - sobre o que acontece neste mundo pesqueiro e suas possibilidades. Não sei se terei uma "prova final" para realizar lá ao término do curso mas já tenho uma prova prática a fazer. Hoje , durante um almoço com minha namorada e amigos, já fui convocado a por a mão na massa durante um almoço na casa de uma amiga nossa. Claro que é uma "prova" que vou adorar fazer e a turma de comer.
Abraços,
Le Cuisinier.

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