Le Cuisinier.

Entre panelas, pratos, vinhos e temperos, junto ao fogo, acontece a cocção de palavras e idéias aromáticas. As receitas podem ser concretas ou abstratas... vai depender do que vai em cada um, do que constrói cada um, do desejar de cada um. É um lugar livre, de integração, mas também da possibilidade de divergir do que está posto no mundo. Todos são bem vindos! LE CUISINIER.

terça-feira, setembro 11, 2007

Morrerei.

James Taylor - Enough To Be On Your Way
Morrerei. Não quero, mas morrerei! Morrerei não sei que dia, ou hora, ou como, em que lugar. Espero que não doa! Não gosto de sentir dor. Espero de não demore! Não quero agonizar. Há algumas semanas, talvez meses, venho com essa sensação que me provoca desconforto constante. Que não tenho muito tempo aqui. Que o meu tempo da longa duração está no fim. De que a brevidade da vida se antecipou e que não me sobra muito mais para amar, para pensar, para estar, para caminhar, para ler, para escrever, tocar, cantar, sorrir, acertar. Tenho feito o caminho para casa no dobro do tempo que normalmente levo. Caminho devagar, a noite, sozinho, no canto da calçada sob o sigilo das árvores, em silêncio, com o sentimento da urgência. Com o sentimento de uma urgência que não sei definir qual é. Precisaria de mais 50 anos para fazer o mínimo que preciso realizar. Não é pretensão. São poucas as coisas: amar e viver com Sica, a mulher de toda a minha vida; ler todos os livros que me fazem existir; escrever ao amanhecer ou no meio da madrugada roubando o silêncio para mim; cozinhar com calma; adornar o prato para minha amada e vê-la sorrir mais uma vez antes de dormir. Tudo está cada vez mais estranho. Cada vez mais encontro menos sentido nas coisas, nas multidões, na enxurrada de informações que despejam sobre nós, nas teorias acadêmicas sem nexo com o viver, nas exigências da urbanidade alegremente emburrecida, nas religiões que aprisionam severamente milhões, na liberdade vigiada, nas exigências sociais vazias mas que têm força e poder. Quero... preciso subir as montanhas sulistas das Minas Gerais e lá viver o tempo que me resta. Quem sabe no nascer do sol, no frio das manhãs, no acender a lenha do fogão, no cheiro do café fresco tomando a casa, no fatiar o queijo, no cortar o pão, no abrir a janela de madeira, no cair das águas entre as pedras, no caminhar de mãos dadas com os pés no chão de terra barrenta, no sorriso da criança, no beijo suave, no demorado abraço, na porta entreaberta, no céu azul, na página seguinte... eu descubra o que vim fazer aqui.

Le Cuisinier.

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