Le Cuisinier.

Entre panelas, pratos, vinhos e temperos, junto ao fogo, acontece a cocção de palavras e idéias aromáticas. As receitas podem ser concretas ou abstratas... vai depender do que vai em cada um, do que constrói cada um, do desejar de cada um. É um lugar livre, de integração, mas também da possibilidade de divergir do que está posto no mundo. Todos são bem vindos! LE CUISINIER.

sábado, setembro 30, 2006

Pelo amor de Deus, Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem, Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém, Abandonado pelo amor de Deus. Ao Nosso Senhor, Pergunte se Ele produziu nas trevas o esplendor. Se tudo foi criado - o macho, a fêmea, o bicho, a flor Criado pra adorar o Criador. E se o Criador, Inventou a criatura por favor, Se do barro fez alguém com tanto amor, Para amar Nosso Senhor. Não, Nosso Senhor, Não há de ter lançado em movimento terra e céu , Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel, Pra circular em torno ao Criador. Ou será que o Deus, Que criou nosso desejo é tão cruel, Mostra os vales onde jorra o leite e o mel, E esses vales são de Deus. Pelo amor de Deus, Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem, Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém, Abandonado pelo amor de Deus. Edu Lobo - Chico Buarque

quarta-feira, setembro 27, 2006

Reminiscências I.

Em um dos escritos do Affonso Romano de Sant’Anna, ele coloca que “saber desejar é refinada atitude”. Roland Barthes fala em “desaprender, deixar trabalhar o imprevisível” até que surja a “sapiência” uma sensação de “nenhum poder, e um pouco de saber, mas com o maior sabor possível”. Entre saber desejar e apenas desejar vai a distância entre o gourmet e o canibal. Eu tenho uma mulher especial em minha vida e busco, nos meus sentimentos com relação a ela, uma “refinada atitude”, de saber desejá-la e de saber tê-la. Este desejo vai muito além da sua juventude, das suas formas femininas, da sua cultura, da sua beleza, do prazer puro e simples. Meu desejá-la quer transpassar as aparências e os modelos formatados de amar e querer. Gosto dela pelo que é, e por estar se re-fazendo, se re-criando a cada dia. Uso a palavra para compreender o que estamos vivendo, sabedor de que, ao ser pronunciada ou escrita, ela - a palavra - já não nos pertence mais. O amor desejado e expressado também já não nos pertence isoladamente. Tudo que disse e escrevi nesses meses, com relação a essa bela companheira e ao que sinto, já não me pertence mais. Estão fruídos na dinâmica do nosso relacionamento. Sinto, no entanto, a necessidade de re-cordar - acordar o coração - que há sinceridade no carinho que tenho e sinto. Que o afeto é verdadeiro, e que os desejos querem estar mais próximos da fina gastronomia e mais distantes do canibalismo afetivo do qual fala Affonso Romano e Drummond de Andrade. Eu chamo isto de AMOR. Um amor que se faz e refaz a todo momento. Não quero ter uma relação de poder, seja ele qual for. Não quero ter uma relação entrincheirada nas diferenças pasteurizadas entre homem e mulher, que mais afastam e empobrecem do que aproximam e enriquecem. Minha abertura de coração é desejo de caminhar juntos. Não é uma abertura perfeita e nem será, mas é movida por uma sinceridade real de acolhimento de tudo que eu sou, como algo bom de ter, como algo bom de poder viver e compartilhar; e também de tudo o que ela é. De recebê-la em minha vida e de poder, assim, nos compartilhamos. Lucien Febvre diz que “em uma palavra estão comprimidas muitas palavras”; os gestos e as ações também comprimem muitos significados. Não por acaso, é tão difícil a comunicação neste nosso mundo grafocêntrico, dito moderno e civilizado. Sei que muitas vezes não sou claro nas minhas colocações mas desejo, ardentemente, que saiba que a amo e que cada gesto, cada palavra, cada atitude minha não contém uma armadilha para aprisioná-la ou ferí-la ou magoá-la afetivamente. Sei que sou um homem bom, sei que sou um homem não usual e sei que tenho por ela uma doce e sincera paixão. Sei que é uma mulher boa e com imensas qualidades que a tornam um ser humano muito especial e apaixonante. Proponho que deixemo-nos amar mutuamente, sem medos ou esgrimas de sutilezas. Que possamos viver cada manhã de forma gostosa como a manhã de um dia de outono, com céu azul, luz tênue, calor ameno e com tempo para olhar nos olhos e compreender que viver e amar é bom e de que estarmos juntos é ainda melhor. Mesmo que dure apenas a fração de segundo sobre a qual escreveu nosso bom e velho Drummond de Andrade.
Beijos carinhosos,
Le Cuisinier.

Rio, 30 de agosto de 2005.

Foto: Barret.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Voto Nulo?

O voto nulo é contrário à democracia? O voto nulo é uma ameaça à democracia? O voto nulo é jogar fora anos de luta por um país mais justo? O voto nulo é um voto de protesto? O que é o voto nulo? Bem, ele pode ser muitas coisas e significar outras tantas, mas é interessante a INTENSA CAMPANHA de órgãos oficiais para que não se vote nulo nessas eleições. Sabe-se que, mesmo ele sendo em massa, a anulação ou não do pleito depende de uma enormidade de articulações políticas e jurídicas. O caso é que, se o voto nulo ganha uma dimensão significativa numa eleição ele sinaliza mais que a insatisfação dos eleitores e da sociedade com o atual quadro nacional. Ele ganha substância, consistência e pode colocar em xeque a atual estrutura político/partidária e jurídica que, até o presente momento, transformou o bem e a coisa pública em curral de enriquecimento e poder pessoal dos canalhas. Esses que todos os dias - em tempos de eleição ou não - vão as TVs, rádios e jornais dar entrevistas mentirosas sobre seus esforços pela democracia, justiça, bem estar social, desenvolvimento... Uma ladainha que é repetida mecanicamente e que NÃO resulta em REAIS BENEFÍCIOS para a NAÇÃO. A tarefa de construir uma sociedade justa e democrática passa pela liberdade de expressão e não creio, sinceramente, que VOTAR NULO seja negativo se vier acompanhado de uma intensa FISCALIZAÇÃO dos eleitos agora e nas eleições que virão. É preciso, urgentemente, que a sociedade TOME para si a responsabilidade de conduzir o Brasil e estabelecer o que é melhor para ela. Não podemos mais continuar nesse círculo vicioso onde, a cada 4 anos, fazemos uma "festa" achando que fortalecemos a democracia ao votar e depois deixamos os eleitos soltos para legislarem e atuarem CONTRA o povo que os colocou lá e de onde dificilmente saem. Se agarram como 'carrapatos estrela' ao Estado e dele sugam TUDO que podem por longos anos. O pior: não respondem criminalmente por isso! Dos que roubaram e corromperam nesse país quantos estão presos? Nessas eleições VOTO NULO!
Le Cuisinier.
Foto: Milene Farias.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Fogo, Mistério & Paixão!

Os seus olhos falam mais que você. Eles são mais que olhos de mulher. Seus olhos têm a cor da infinitude do universo e a vastidão insondável que vai em cada coração. Seus olhos carregam, assim como o fogo, mistério e paixão.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Delicadeza e Afeto: Temperos para Um Mundo Melhor!

Agitar o corpo e o coração faz que vivamos mais e mais felizes, não importa qual a nossa idade. Mas só isso não basta! Só isso não justifica o dom da Vida. Penso que é preciso também saber "agitar" uma qualidade humana que estamos, gradativamente, perdendo no turbilhão urbano e mental no qual fomos mergulhamos: a DELICADEZA! Ela não precisa ser exposta em uma ação grande ou fantástica, que chame a atenção da mídia ou de multidões, mas pode e deve ser articulada e vivida nas pequenas coisas... naquelas que damos pouca importância, pois caíram na rotina, no dia-a-dia. Podemos "agitar" a delicadeza numa sala de aula, numa refeição, no trânsito, na família, no trabalho ou onde quer que haja GENTE. Pois é! Porque para que esse tipo de exercício seja mais “completo” é preciso ter alguém - quer o conheçamos ou não; que haja um outro – esteja ele presente ou não; que haja um ser humano, como nós, com quem intercambiamos a vida, possibilitando constantes e enriquecedoras interseções entre eu e ele, entre ele e você, entre todos que trafegamos nessa rápida viagem, sobre um planeta azul chamado Terra, que suavemente desliza pelo universo. Claro que a delicadeza por ser expressa de mil maneiras até quando vamos comprar pão na esquina. Mas ela ganha substância quando do outro lado está um semelhante seu. O turbilhão - no qual poucos de nós resistimos de sermos lançados e que agora até trabalhamos para que nele permaneçamos - cria muitas vezes a falsa sensação de certeza. Um tipo de certeza! De UMA certeza fundada em uma pseudo-autoridade: de que aquilo que pensamos e da forma como expressamos o que pensamos é a melhor equação, é a mais interessante, a mais adequada e “original”. E quando essa minha visão privada do mundo fica diante de um encontro (ou confronto) - entre uma, duas, ou mais pessoas – com idéias diferentes, com visões diferentes, com atitudes que não correspondem as que balizei como “corretas e melhores” parto para a consolidação e afirmação daquilo que entendo como certo e esse “certo” é o que eu entendo como a melhor maneira de agir para aquele momento. Pode até aparentar um diálogo, mas DIÁLOGO tem como característica a troca de idéias e elaborações e para que isso ocorra é preciso escutar... ouvir o outro. É mais ainda: é fazer algo que é bastante difícil e que está posto, na sociedade atual, como desnecessário e piegas... ouvir a si mesmo; ultrapassar a superficialidade das relações, das emoções e dos acontecimentos. Mas não temos mais tempo para essas coisas. Não temos mais “saco” para, ao menos, tentar perceber o que vai em um coração que não é o mesmo que bate no meu peito ou no seu. Empunhamos nossas certezas como verdade e com ela partimos para instalar no outro a nossa concepção de mundo, de fé, de felicidade, de amizade, de família, de liberdade e seja lá o que for. E nesse processo o eco que escutamos é o da nossa própria voz e supomos, enganosamente, ser isso um diálogo. Nesse roldão, sermos indelicados não é indelicado. Sermos rudes nas palavras não é ser rude, grosseiros nas atitudes não é ser grosseiro, tudo encontra uma explicação técnica para justificar o porquê podemos levar alguém as lágrimas e a solidão: é por uma boa causa! Fazer isso não é ter consistência intelectual, não é ter força argumentativa, não é ter personalidade forte, não é ser “claro” em suas colocações, não é ser convicto de suas certezas. Fazer isso é ser INDELICADO com o outro. E ser grosseiramente indelicado com o outro simplesmente por ele divergir do que você pensa. É colocar o seu interlocutor, seja lá ele quem for, gratuitamente, em uma situação de abandono afetivo no qual nenhum ser humano merece estar. São coisas aparentemente simples, mas que transformaram o mundo num lugar difícil de viver. Estamos nos tornando impermeáveis ao olhar e afeto daqueles que nos acompanham nesta curta travessia. Romper a rigidez de nossas estruturas e deixar-se perceber possibilita encontros maravilhosos. Foi um olhar que quebrou meu afastamento progressivo e minha desesperança com relação ao mundo. Por isso agradeço a Sica, pelo seu olhar, por cada sorriso que dela recebi e ainda recebo, por cada questionamento amoroso que me colocou, por cada divergência dialogada que tivemos, por confrontar minhas colocações sempre partindo do patamar do respeito e da lealdade. Por ter despertado em mim, ao olharmos juntos o horizonte, o afeto pelo que se apresenta diferente e plural, por ter me ensinado a abrir o meu coração e a perceber o que vai no coração do outro - valorizando sinceramente o que bate em ambos. Por ouvir-me com delicadeza e por colocar com firmeza carinhosa suas elaborações e assim ter-me tornado um homem melhor e um ser humano mais integrado, íntegro e solidário. Por isso e muito mais eu a amo hoje mais do que ontem. Beijos,
Le Cuisinier. delicadeza do Lat. delicatitia s. f., qualidade de delicado; aptidão para discernir as coisas mais subtis; subtileza, sagacidade; cortesia; urbanidade; afabilidade; tenuidade, brandura, suavidade; mimo, fragilidade; fraqueza; leveza; primor; susceptibilidade, escrúpulo.

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